Depois de Central do Brasil (1999), ainda na época da internet discada, o país volta a ser indicado ao Oscar de Melhor Atriz e Melhor Filme Internacional este ano. Dessa vez, é a filha de Fernanda Montenegro quem disputa a estatueta careca, embora a sua principal concorrente seja a favorita Demi Moore no melhor papel de sua carreira. Ambos os filmes brasileiros foram dirigidos por Walter Salles, porém, Ainda Estou Aqui (2024) concorre também na categoria principal de Melhor Filme. A mais recente obra-prima do herdeiro do banco Itaú, em exibição nos cinemas, foi baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva sobre o assassinato do pai do escritor durante o regime militar quando ele tinha apenas 11 anos de idade.
Aquele ambiente alegre de uma infância cheia de vida foi retratado com perfeição pelo cineasta carioca, incluindo um figurino perfeito, direção de arte e uma fotografia setentista em cores vivas, embalados pela trilha sonora de clássicos da MPB, retratando uma parte daquela geração hippie bronzeada ao bater de frente com os militares truculentos em nome da revolução socialista, tanto no Brasil como em toda a América Latina. A trama de 3 indicações ao Oscar inicia com o sequestro do embaixador suico Giovanni Bucher, orquestrado pelo guerrilheiro de extrema-esquerda Carlos Lamarca; por isso o ex-deputado federal Rubens Beyrodt Paiva (Selton Mello) ficou detido nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971 com o intuito de revelar informações fundamentais sobre o paradeiro tanto do diplomata como daquele guerrilheiro de luta armada contra a ditadura militar. Enquanto isso, a esposa Eunice Facciolla Paiva (Fernanda Torres) se esforçava para sustentar todos os cinco filhos sozinha, sem saber do ado obscuro daquele engenheiro filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) que se auto-exilou no exterior por alguns anos, logo após o golpe de 1964.
No entanto, quando o dinheiro acabou, aquela família de classe média alta se mudou rapidamente do Rio de Janeiro para São Paulo, onde moravam todos os seus parentes.
É aí que se desenvolve a maior parte do outro best-seller autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, transformado também em filme.
Feliz Ano Velho (1987), disponível na Claro TV Plus, aborda as consequências do acidente que deixou o escritor momentaneamente tetraplégico com apenas 20 anos de idade, enquanto ele cursava engenharia agrícola pela Universidade Estadual de Campinas. Lá o personagem vivido por Marcos Breda, engata um namoro com Ana (Malu Mader), embora o enredo seja desenvolvido em flashbacks enquanto aquele estudante traumatizado fazia fisioterapia com o objetivo de recuperar plenamente o movimento das mãos e dos braços para a felicidade da mãe, aqui interpretada por Eva Wilma.
Apesar de Emília Pérez (2024) ter recebido 13 indicações ao Oscar, Ainda Estou Aqui é ligeiramente favorito: pelo menos na categoria de Melhor Filme Internacional em razão das declarações polêmicas de Karla Sofía Gascón às vésperas da premiação mais importante do cinema mundial. A primeira transexual indicada ao Oscar de Melhor Atriz interpreta o líder de um cartel mexicano que decide trocar de sexo e de identidade, visando escapar dos inimigos. Porém, Juan Del Monte não consegue ficar muito tempo longe dos filhos, da esposa Jessi (Selena Gomez) e do crime organizado; por isso acaba voltando a morar com a família em sua nova mansão quatro anos depois, embora o criminoso estivesse disfarçado de Emília Pérez. A advogada que o auxiliou neste processo complicado de mudança de sexo é a unica que conhece a sua verdadeira identidade. Rita (Zoe Saldaña) estava aposentada, mas a nova quantia em dinheiro sujo para morar ao lado do traficante falou mais alto. Este musical bem coreografado, desde o dia 6 de fevereiro nos cinemas brasileiros, não altera o ritmo frenético da trama com muita ação e drama no final.
.jpg)
